quinta-feira, dezembro 28, 2006


"Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens."

domingo, dezembro 24, 2006

Fecho as pálpebras roxas, quase pretas,
Que poisam sobre duas violetas,
Asas leves cansadas de voar...

E a minha boca tem uns beijos mudos...
E as minhas mãos, uns pálidos veludos,
Traçam gestos de sonho pelo ar...



Florbela Espanca

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Passei toda a noite sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distracção animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero só
Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.

Alberto Caeiro

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Espero a tua vinda,
a tua vinda, em dia de lua cheia.
debruço - me sobre a noite
inventando crescentes e luares.
Espero o momento da chegada
com o cansaço e o ardor de todas as chegadas.
Rasgarás nuvens, estradas,
abrindo clareiras
nas sebes e nas ciladas.
Saltarás por cima de mares,
de planícies e relevos
- ânsia alada
no meu desejo imaginada
Mas
enquanto deixo a janela aberta
para entrares
o mar
aí além,
lambe-me os braços hirtos, braços verdes
algas de sonho
- e desenha ironias na areia molhada
Fernando Namora

sábado, dezembro 16, 2006


vou procurar-te. agora. quero ver-te. abraça-me. eu vou contigo. olha para mim. eu levo-te. pensei em ti. vem comigo. quero abraçar-te. lembrei-me de ti. sonhei contigo. dá-me a mão. tenho saudades. quero ouvir-te. fica. não vás. por favor. amanha será tarde.
há tanto que ainda não disse. e fica sempre tanto por fazer.

terça-feira, dezembro 05, 2006


Eu disse-lhe:

- Morreu Mário Cesariny, o poeta...

Ele disse-me:

-Morreu Mário Cesariny, o pintor!

quinta-feira, novembro 30, 2006

Sabes que ainda mal olhei para ti?
Há ainda demasiada santidade presa a ti.
Não sei como te dizer o que sinto.
Vivo numa expectativa perpétua.
Tu vens e o tempo desliza num sonho.
É só quando te vais embora
que me apercebo completamente da tua presença.
E depois é demasiadamente tarde.

in Henry e June - Diário Intimo de Anaïs Nin